23.2.16

Naco #16

Fico sempre espantado com o sangue frio que os polícias têm ao negociar com um grupo de terroristas. Deve ser difícil. Principalmente, se estiverem reféns envolvidos. No entanto, há um cenário que deve dificultar ainda mais este processo: quando acontece numa biblioteca. Aí, esquece, não há forma de negociar. Tens de dialogar com um bando de criminosos, tentar encontrar a melhor solução e não podes falar alto? Impossível. Imaginem os terroristas, com os reféns, num piso de cima de uma biblioteca e os polícias na entrada a falar com eles.

- Vocês estão todos cercados. Não têm como fugir.
- Shhhhhhh.
- Quem é que falou?
- A bibliotecária. Está com a boca tapada, mas mesmo assim conseguiu mandar-te calar.
- Então, como é que fazemos isto?
- Shhhhhhh.
- Pá, temos de falar baixo. A velha ainda se passa.
(a sussurrar)
- Não conseguem fugir daqui. Deixem sair os reféns.
...
...
(a falar alto)
- Ouviste o que te disse?
- Shhhhhhh. Silêncio!
- Pá, estás a atiçar a velha.
(a sussurrar)
- Assim não vai dar para negociar.
...
...
(a falar alto)
- Disseste alguma coisa, bófia?
- Shhhhhhh.
(a sussurar)
- Não temos condições.
- Não sei se ouvi direito, mas, sim, acho que concordo.
- Temos que fazer isto devagar. É o seguinte: temos dois helicópteros lá fora e um batalhão de SWATs prontos a entrar. Não há forma de escaparem.
- Não sei se apanhei tudo.
- Pá, deixem sair as vítimas.
...
...
(a falar alto)
- O quê?!
- Shhhhhhh. Desculpe, mas o senhor terrorista está a importunar o ambiente da biblioteca. Já não é a primeira, nem a segunda vez, que o mando calar. Tenha paciência, mas vou chamar os seguranças. Vitor, Jorge, façam o favor de acompanhar estes senhores à porta de saída.
[À saída da biblioteca, acompanhados pelos seguranças]
- Vês? Eu disse que estavas a atiçá-la.

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