2.9.14

Delírios Declarativos #8

Há demasiadas pessoas a usar expressões inglesas nas frases. Tem sentido se estivermos a falar de cidadãos originários de países onde se fala inglês. Se és originário de Camberra, tem lógica usares; se és originário de Portsmouth, com família nascida em Inglaterra, tem lógica usares. Agora, se és natural de São Mamede Infesta e a tua família é toda oriunda de Chaves, nunca viveste num país de língua inglesa, e naquele momento, não estás a falar com um individuo de um desses países, então, não tem lógica usares expressões inglesas nas frases. 

Estamos a levar, ultimamente, com uma invasão anglo-saxónica gramatical, onde vários cidadãos apresentam uma espécie de dupla nacionalidade momentânea; sim, porque a pessoa encarna o papel, de um bretão, por míseros segundos. Essa pessoa, normalmente, começa a frase na língua de Camões, mas mesmo antes de terminar, dá ali meia volta no Cabo da Boa Esperança, para atracar no porto de Southampton. Atenção: não estou a falar de estrangeirismos, nem da sigla “ok”, ou de outras. A sociedade sempre tolerou o “ok”. O problema é que já passamos do “ok”, para o “lol”, e do “lol” para o “what the fuck”. Tudo isto sem, alguma vez, na nossa história, pertencermos ao império britânico. Eu, no entanto, quero muito acreditar que, em Inglaterra, as pessoas também estão a usar expressões portuguesas a meio de uma frase. Algo como: “and, já agora, this cup of cake is delicious, honey.” “Oh meu deus, this was so amazing!” 

Eu pensava, honestamente, que o uso do inglês era um hábito, apenas, nas redes sociais, mas já fui confrontado com essa situação, cara-a-cara: “João, acabei de ver um episódio, de uma série, tão awesome. Amazing!” A minha perplexidade foi tanta, que instantaneamente, comecei a criar uma resposta dentro da minha cabeça. “Que raio de dupla personalidade é essa? Tu, a meio da frase, passaste de uma pessoa com um doutoramento em Oxford? Repara bem no teu snobismo a dizer isso. Estás mesmo orgulhoso do que acabaste de fazer. Tu sabes perfeitamente que eu sou da mesma nacionalidade que tu. Já nos conhecemos aos anos. E, já agora, porque é que usaste só duas línguas nessa frase? Experimenta usar três, quatro. Olha, experimenta tirar um curso profissional com pessoas que foram exorcizadas. Ouvi dizer que também misturam línguas.” 

Consigo perceber que o inglês está presente no dia-a-dia e, de certa forma, somos influenciados por isso. No entanto, esta troca cultural tem vindo a aumentar. Depois das expressões o que vem a seguir? Frases completas? E depois das frases começamos a adoptar os seus costumes? Vamos começar a deixar de comprar protector solar e começar a beber ao meio dia? Vamos ter um rei, começar a disparar em colegas da escola e invadir países, enquanto ouvimos AC/DC? Vamos começar a inovar a comédia, com grupos como os Monty Python, e ter a mesma piada que o Ricky Gervais e Louis CK? Não contem comigo para isso.

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