É capaz de não haver várias maneiras de passar numa passadeira. Apesar de serem todas legítimas, a mais usada, pela generalidade das pessoas, consiste em locomover o corpo de um passeio ao outro, com o auxílio da passagem para peões. No entanto, há várias alternâncias neste simples processo. Há, pelo menos, três grupos que fizeram, de um simples atravessar de rua, um laboratório de análise comportamental.
Há o grupo das pessoas que começa a correr enquanto atravessa a passadeira. Atenção: eles não estavam já a correr e, por isso, mantém o ritmo a atravessar; eles estavam a caminhar e, de súbito, aceleram o passo, fazendo uma espécie de 5 metros livres, até ao outro lado da via. Confesso que, sempre que vou no carro e vejo alguém a fazer isto, fico com vontade de o atropelar, porque parece que está a fugir de um crime que cometeu e a troca de olhares comigo despertou-o para começar essa fuga. Eu percebo, essas pessoas estão a tentar ser simpáticas: aumentam a passada para eu ficar menos tempo à espera; mas a verdade é que só me fazem poupar meio segundo. Ainda para mais, ao começarem a correr, aumentam o risco de se magoarem, podendo ficar estendidos no chão à espera de assistência.
O segundo grupo é das pessoas que agradecem a atravessar na passadeira. Um bocado estranho para mim. O que é que eles estão mesmo a agradecer? “Obrigado por não me ter passado por cima.” “Obrigado por ter cumprido com as leis do trânsito.” “Foste obrigado a parar por minha causa e por isso presto a minha homenagem a ti, jovem condutor.” Eu acho que eles pensam que paramos o carro para sermos simpáticos, como uma espécie de boa educação. A verdade é que, apenas paramos, para diminuir o risco de cometer um homicídio. É tão simples quanto isso. A única razão aceitável para fazer esse gesto de agradecimento, de saudação é se nos conhecermos de algum lado. “Então João, como é que estás? Gosto em ver-te.”
O último grupo é o mais difícil de digerir: são as pessoas que quando paramos o carro, para atravessarem, não atravessam e dão um sinal para avançarmos. Ou seja, imobilizamos um meio de transporte de meia tonelada, cumprindo com as leis que nos obrigam a parar; demonstramos ser cidadãos obedientes com a sociedade em que estamos inseridos, procurando criar harmonia e bem-estar; no entanto, a pessoa que está para atravessar, pelos vistos, acha que não somos dignos da sua presença. Até podia dar o benefício da dúvida e achar que não queria atravessar naquele momento, mas depois consigo ver pelo espelho do carro que avançou de imediato. Uma coisa é certa: nunca ninguém fica satisfeito de parar numa passadeira. E pior ainda: nunca ninguém fica satisfeito de parar numa passadeira, para ninguém passar numa passadeira. É uma péssima sensação. Por momentos, quando este cenário acontece, parece que os papéis ficam invertidos: a pessoa pára para passar o carro na passadeira. Ao abrir este precedente, nem quero imaginar as possíveis novas leis rodoviárias.
Há o grupo das pessoas que começa a correr enquanto atravessa a passadeira. Atenção: eles não estavam já a correr e, por isso, mantém o ritmo a atravessar; eles estavam a caminhar e, de súbito, aceleram o passo, fazendo uma espécie de 5 metros livres, até ao outro lado da via. Confesso que, sempre que vou no carro e vejo alguém a fazer isto, fico com vontade de o atropelar, porque parece que está a fugir de um crime que cometeu e a troca de olhares comigo despertou-o para começar essa fuga. Eu percebo, essas pessoas estão a tentar ser simpáticas: aumentam a passada para eu ficar menos tempo à espera; mas a verdade é que só me fazem poupar meio segundo. Ainda para mais, ao começarem a correr, aumentam o risco de se magoarem, podendo ficar estendidos no chão à espera de assistência.
O segundo grupo é das pessoas que agradecem a atravessar na passadeira. Um bocado estranho para mim. O que é que eles estão mesmo a agradecer? “Obrigado por não me ter passado por cima.” “Obrigado por ter cumprido com as leis do trânsito.” “Foste obrigado a parar por minha causa e por isso presto a minha homenagem a ti, jovem condutor.” Eu acho que eles pensam que paramos o carro para sermos simpáticos, como uma espécie de boa educação. A verdade é que, apenas paramos, para diminuir o risco de cometer um homicídio. É tão simples quanto isso. A única razão aceitável para fazer esse gesto de agradecimento, de saudação é se nos conhecermos de algum lado. “Então João, como é que estás? Gosto em ver-te.”
O último grupo é o mais difícil de digerir: são as pessoas que quando paramos o carro, para atravessarem, não atravessam e dão um sinal para avançarmos. Ou seja, imobilizamos um meio de transporte de meia tonelada, cumprindo com as leis que nos obrigam a parar; demonstramos ser cidadãos obedientes com a sociedade em que estamos inseridos, procurando criar harmonia e bem-estar; no entanto, a pessoa que está para atravessar, pelos vistos, acha que não somos dignos da sua presença. Até podia dar o benefício da dúvida e achar que não queria atravessar naquele momento, mas depois consigo ver pelo espelho do carro que avançou de imediato. Uma coisa é certa: nunca ninguém fica satisfeito de parar numa passadeira. E pior ainda: nunca ninguém fica satisfeito de parar numa passadeira, para ninguém passar numa passadeira. É uma péssima sensação. Por momentos, quando este cenário acontece, parece que os papéis ficam invertidos: a pessoa pára para passar o carro na passadeira. Ao abrir este precedente, nem quero imaginar as possíveis novas leis rodoviárias.
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