Um destes dias, eu e a minha namorada estávamos a almoçar arroz de pato. A certo momento ela declara: “Este arroz do pato está bom.” A sua maneira doce com que disse estas palavras, ao aprovar a iguaria que estava diante os nossos olhos, fez com que, após uns segundos de reflexão, eu respondesse desta maneira: “Arroz do pato? Isso implicaria que, o arroz que estás a comer, pertencesse ao pato. De alguma forma, o pato conseguiu adquirir uma parcela de arroz e fez com que esse arroz ficasse em seu nome. Consegues imaginar o trabalho que ele deve ter tido? E já nem estou a falar em termos jurídicos. Estou mesmo a falar, do facto, da maioria dos patos não saber onde se compra arroz. Ele, provavelmente, teve que sair do seu ecossistema e andar à procura de um sítio para comprar arroz. Deve ter falado com gaivotas, cegonhas, andorinhas a perguntar o melhor sítio para comprar. Mas sabes que mais? Elas também não sabem. Teve que ser ele, sozinho, a procurar durante dias, meses, anos até encontrar. Quando pensamos que tudo estaria a correr bem, o pato depara-se com o preço do arroz. Ele não tinha maneira de comprá-lo. A única solução seria roubar. Voltou a casa e teve meses a pensar num plano para roubar o arroz sem ser apanhado. Planeou, planificou, estudou tudo ao pormenor para que, quando chegasse o dia, nada falhasse. Depois de semanas a adiar, finalmente toma a grande decisão. Infelizmente, ao chegar ao local, depara-se que não tem maneira de transportar o arroz. Volta para casa e perde mais uns meses à procura da solução, até que a encontra. Com a ajuda de um pelicano, que era irmão de uma amiga de infância da mulher, consegue roubar o arroz sem ser apanhado. Sabes qual é a parte frustrante disto tudo? É que os patos não gostam de arroz. Para que é que ele precisava de arroz? Estamos, ainda por cima, a lidar com um pato que faz coleccionismo, ou sofre de problemas mentais. Apesar disto tudo, sabes o que é que é mais grave? É que estamos a comer o pato junto com o arroz que ele tanto lutou para ter.” Após a minha resposta, senti que a minha namorada tinha ficado afectada e, depois de ter ingerido o que tinha na boca, responde-me: “Oh, arroz de pato. Enganei-me.”
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