23.5.11

Isto não passa de um texto sem nexo #4


Eu, por norma, sou um rapaz muito bonito. E também, por norma, gosto de ser abordado na rua com astúcia, e com outro sinónimo que dê sofisticação a esta frase. Ora, isso não foi o que me aconteceu no outro dia. Para surpresa de toda a gente que não estava lá, e para os outros que não testemunharam o acontecimento, eu fui abordado na rua por um conhecido que já não o via há algum tempo, da seguinte forma: "Olha o desaparecido!”.

Pois bem, vamos cá ver se nos entendemos: A pessoa viu-me na rua, aproximou-se de mim, olhou-me nos olhos e abordou-me como se eu estivesse desaparecido. É isto, certo? Antes de mais, tenho que felicitar essa pessoa, porque chamar desaparecido a um ser humano que está à sua frente, revela enorme perspicácia e sabedoria. Agora que já o felicitei, posso dizer que isto para mim é um enorme cagalhão linguístico. Chamar desaparecido a um sujeito que está à sua frente, é como chamar heterossexual a um sujeito que está num bar gay sem t-shirt. Certo, Malato?

No entanto, eu bem tento perceber o raciocínio dessa pessoa que me abordou. Mas só consigo pensar em merda de cão em grandes quantidades. É que se eu estou desaparecido, porque raio estou à frente dele a falar com ele?! O mais engraçado é que durante o tempo todo que não estive com esse conhecido, ele tinha todo o direito de me chamar desaparecido. Mas desde o momento em que me vê, eu deixo logo automaticamente de estar desaparecido, porque ele encontrou-me! Vá, agora vamos lançar confetis para a camada do ozono! Ok, vamos com calma. A verdade é que ele encontrou-me, mas também confesso que a culpa foi minha. É que andar com disfarce à civil no meio da civilização urbana, não é lá muito bem jogado.

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